DISFORIA DO GÉNERO espaço não oficial

08
Mar 09

Há uns tempos atrás, antes das pessoas saberem da minha condição específica, enviaram-me um e-mail que visava uma intervenção cirúrgica de redesignação sexual MtF.

Acompanhava essa mensagem o comentário seguinte: "É arrepiante. Epá, porque é que as pessoas não se deixam estar como Deus as fez?"

Concordo, arrepia.

Para mim, qualquer situação que envolva o corte da carne é arrepiante. Uma "simples" operação ao joelho, é arrepiante; sacar fora parte do estômago ou fígado, é arrepiante.

Quando o bisturi começa a cortar a pele, passa pelas células adiposas e rasga o tecido esponjoso; quando chega ao músculo e presencia-se à dilaceração das carnes; quando se vê o osso; quando se desnudam os órgãos internos; para mim, pessoalmente, tudo isso é arrepiante, é uma agressão, é de pôr os cabelos em pé.

No entanto, as pessoas não deixam de se submeter a um número sem fim de intervenções cirúrgicas só porque é arrepiante ou só porque é feio, independentemente daquilo que as move, sejam motivos de saúde, sejam questões de beleza.

Quanta gente não se submete a cirúrgias de estética e, no entanto, as pessoas ficam horríveis, todas negras e inchadas; mas, depois passa. As carnes voltam a unir-se, a readquirir firmeza; as células fundem-se novamente. Em muitos casos, passado um tempo, nem se reconhece ter havido qualquer intervenção humana.

Se formos a dar crédito à indignação que leva à expressão atrás, eu questionaria - porque toda a gente não fica como está? Se tem um defeito físico, que pode ser sanado por uma ajuda externa da medicina e melhorar a autoestima, deve ficar como Deus o/a fez. Se tem um câncro, por exemplo, não tem que buscar qualidade de vida e deve ficar como Deus o/a fez. Certo? Errado.

Isso é mentalidade mesquinha e ignorante. Já disse Freehill: Quem é mais insensato? A criança que tem medo do escuro, ou o homem que tem medo da Luz?

Tudo o que existe é Obra Divina, já diz o velho ditado: Pela Obra se conhece o Criador; tanto a Religião como a Ciência, propriamente dita, são filhos do mesmo "ventre", diferentes mas que se complementam. Uma equilibra uma parte do Ser, a outra equilíbra a sua metade.

Todo este processo a que se submetem os T's, visa buscar o seu bem estar emocional, psíquico e até físico. Visa ir ao encontro da sua real identidade.

Todos nós, sem excepção, necessitamos de saber e fazer saber quem somos, na íntegra. A individualidade é algo sagrado para todos nós. Só mesmo quem nunca se viu privado dela consegue ter estes achaques infelizes.

Sou um Ser pacato, privo-me muito de agredir quem seja e de que forma for, mas, haja paciência. Chega a um ponto que ninguém aguenta.

publicado por UNO às 19:34

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